O Editor

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Cerveja











 
DESAFIO
Ontõe Gago e Zé Preá,
gente boa num repente,
se encontraro em Cabrobró
pra alegria dos presente.
Fizero um forrobodó
de botá inveja na gente.
Desafia um daqui
arremete outro de lá
e ameaça arrebentá
a cara desse sagüi.
Eis que chega um forastero
para entrá na brincadera.
Quem é ele? Mano Mero,
vindo do sul brasilero.
No Nordeste é no repente,
lá no sul é Califórnia.
Veja o senhor a esbórnia
que ele tem na sua frente.
Zé Preá puxa o punhá
Mano Meira sua espada.
Bota ela ali deitada
no terreno do quintar.
E o gaúcho vem bailando
saltita sobre a danada.
Zé Preá nun intende nada,
Ontõe Gago só mirando.
Toda lida ali termina
com gritinho e alegria,
com abraço e cantoria.
Coisa munta feminina.
Devo agora terminá
este modesto repente.
Me desculpe, Zé Preá,
se lhe fui tão renitente.
Mano Meira vem pra cá
comer churrasco co'a gente.
Ontõe Gago vai dançá
xaxado, todo contente.
Publicados os versos, os três se encheram de brios e se puseram a engrossar o cordel.
A literatura do cordel (clique aqui): é tipicamente nordestina. Um dos maiores cantadores do Nordeste, se não for o maior deles todos, era o cego Aderaldo (clique aqui). Ficaram famosas as cantorias encabeçadas por ele, pois sempre aparecia alguém querendo superá-lo. E quase sempre acabava entregando os pontos. "Apanhando", como dizem eles. Um desses desafios, por sinal longuíssimo, terminou, porém, empatado, como ele mesmo relatou depois:
"Havia quatro cervejas
que um coronel apostou
dizendo que todas quatro
pertencem ao vencedor.
Nós bebemos as cervejas.
Nem um nem outro apanhou".

 

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