O Editor

quarta-feira, 13 de maio de 2015

O PENSAMENTO POLÍTICO DO MOVIMENTO ABOLICIONISTA NA BAIXA MOGIANA (1870-1890) - Parte VI

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Considerações Finais

No início de 1888, as idéias abolicionistas borbulhavam pela província de São Paulo, bem como em todo o país. E os negros já clamavam por liberdade, provocando o “despovoamento” das fazendas. Segundo um deputado da época, o despovoamento das fazendas estaria tomando um caráter mais perigoso para a ordem social, pois se, a princípio, os escravos abandonavam secretamente as fazendas, escondendo-se em seguida, naquele momento, eles invadiam as cidades, organizando passeatas e gritando pelas ruas “vivas” aos abolicionistas e “morras” aos escravocratas.
Este movimento de retirada das fazendas parece ter sido tão grande que já em janeiro de 1888, mesmo que se quisesse fazer durar ainda algum tempo a escravidão, este regime de trabalho não seria mais possível. As fazendas estavam despovoadas, muitos municípios proclamavam a emancipação, e agora, diante deste “não quero” generalizado dos escravos, só restava aos políticos trabalhar por uma saída simultaneamente ordeira e honrosa: a decretação legal da abolição (AZEVEDO, p. 213).
No meio desse caldeirão fervilhando, estavam as autoridades policiais, que ficavam entre a cruz e a espada, pois se compactuavam com os fazendeiros – o que era mais comum – corriam o risco de ser agredidas de forma nada lisonjeiras pelos populares. Já quando policiais pendiam para o abolicionismo.
A sua sorte podia ser mais violenta, conforme o ocorrido com o delegado de polícia de Penha do Rio do Peixe, na madrugada do dia 11 de fevereiro. Atacado quando dormia, por grupos armados, aos gritos de “morra! deita fora os negros!”, Joaquim Firmino de Araújo Cunha foi linchado no quintal de sua casa, após tentar fuga escalando muros. Pagou assim com a vida o fato de ter escondido escravos fugidos da região (AZEVEDO, p. 211).
Diante de tanta pressão (inclusive “evitando-se por todos os modos que as paixões ruins das classes ínfimas viessem à tona, o que possivelmente poria muito ou mesmo tudo a perder para proprietários e comerciantes, bem como representantes políticos”), uma proposta de união nacional (já proposta em 1884 pelo barão de Guajará), cada vez mais insistentemente colocada pela elite em suas diversas correntes de opinião, ”no início de maio de 1888, os políticos dos três partidos – Liberal, Conservador e Republicano, aos quais se filiavam escravistas, emancipacionistas e abolicionistas indistintamente – deram-se as mãos num consenso quase absoluto e votaram na Lei da Abolição, chamando em meio as loas e hinos à pátria pela conciliação, o que queria dizer esquecimento dos conflitos passados e sobretudo não-revanchismo” (AZEVEDO, p. 214).

Vera Silvia Constantino (PUC - MINAS)