O Editor

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O Contador de estórias

ATIVIDADE COMPLEMENTAR – CINEMA
Análise do Filme “O Contador de estórias”.

Filme baseado na história de vida de um garoto negro da periferia de Belo Horizonte, MG, Roberto Carlos Ramos, o qual, por volta dos 7 anos, é encaminhado pela mãe, carente,  à FEBEM, na expectativa de que receba formação e saísse de lá “doutor”.
 A   recém criada FEBEM, órgão com promessas de oferecer “FÉ, Esperança, Bondade, Eficiência e Moral”, veiculadas pelos meios de comunicação da época, seduziram a mãe do garoto, negra e lavadeira, e que vivia em condições de extrema pobreza nas favelas de Belo Horizonte, a BH, a qual acreditava que era o único meio de tornar seu filho caçula um doutor, já que os outros não puderam estudar.
O garoto, que imaginava a FEBEM como um lugar educativo mágico como  um circo,  logo percebeu uma realidade bastante diferente e, embora não quisesse ficar, não teve escolha.
Foi se adaptando como pôde ao lugar e, sem demora, passou pa participar das fugas coletivas da unidade, as quais eram tão comuns que havia até buracos nas paredes dos muros, facilitando a escalada.
Muitas foram às fugas e recapturas, tantas que  ficava difícil o encontro com sua mãe - sempre que era dia visitá-lo na unidade ele estava em fuga, o que fez com que ambos fossem perdendo o contato.
Numa das recapturas, quando o garoto chega à FEBEM em estado de agitação e revolta, é visto por uma pedagoga francesa que estava no Brasil fazendo uma pesquisa no local. A pedagoga incomodou-se com a presença e revolta do garoto e interessou-se em saber mais a seu respeito para incluir em sua pesquisa.
Ao tentar entrevistá-lo, o garoto, muito desconfiado, resistia a falar, mas ao ser apresentado ao gravador da pedagoga, animou-se em deixar sua “estória” ali registrada. Começou a contar uma estória de um assalto praticado por ele e sua família, que ia sendo criada pela sua imaginação, na medida em que ia falando. O assalto imaginário ocorria com êxito, todos os seus familiares escapavam e Roberto era o único a ser capturado pela polícia.
No dia seguinte a pedagoga não mais o encontrou na unidade, porque estava novamente em fuga. Caminhando pelas ruas, encontrou-o junto a um grupo de  garotos de rua,  numa praça, tomando banho de chafariz. Convidou-o para ir até sua casa, para aprofundarem os contatos, mas o garoto desconfiado resistiu bastante e só aceitou depois que seus colegas o fitaram e o fizeram entender que devia acompanhá-la e assaltá-la.
Chegando a casa, a pedagoga preparou um banquete no café da tarde, na expectativa de conquistá-lo para que falasse mais a seu gravador. O garoto, sempre desconfiado, testa a tolerância da pedagoga, de várias maneiras: reclamando do lanche, triturando o bolo com as mãos, falando palavrões. Mas a pedagoga permaneceu impassível.
Como não respondia às perguntas dela, tomou a iniciativa e passou a iniciar o elo, falando sobre si. Contou as histórias de sua vida. Aos pouquinhos, a estratégia começava a dar certo.
 Dias depois, Roberto foi a encontro de Cabelinho de Fogo, líder de rua de um grupo mais velho e respeitado, pleiteando uma vaga em seu bando. Cabelinho de fogo era o seu ícone, o seu herói. Como não foi aceito, insistiu até que o Cabelinho de Fogo prometesse a lhe aceitar no bando, com a condição de passar por um teste. Foi, então, levado, a uma linha de trens e estuprado por três (3) garotos e, após, agredido com socos e pontapés.
Roberto ficou caído na linha sem ação. Esvaído de suas forças e referências, tenta-se suicidar, mas, como se deitou entre as linhas do trem, a máquina passa e não o mata.
Desorientado, vai até a casa da pedagoga, adentra e subitamente se refugia trancado no banheiro por dois dias, incomunicável. A pedagoga foi deixando em sua porta comida e roupa, até que, num determinado momento, ele abre a porta e começa a se alimentar.
 Aos poucos, saiu e iniciou-se um contato tímido e desconfiado com a pedagoga, passando a conhecer a rotina da classe média. Após duas semanas, Cabelinho de Fogo aparece para visitá-lo, na intenção de assaltar a casa.
Ao pegar o gravador da francesa, Roberto se sentiu atingido e na defesa do gravador da pedagoga, manteve luta corporal com Cabelinho de Fogo até resgatá-lo. Foi o  primeiro sinal de ligação afetiva entre Roberto e a Pedagoga.
A partir de então, o vínculo entre ambos passa a se fortalecer, e a pedagoga passa a se preocupar com ele, como com um filho, proporcionando-lhe muitas vivências e paradigmas novos: leituras, mudança de postura corporal (posição ereta, olhar de frente),  viagens, foram ao estádio Mineirão ver um jogo.
Fortes emoções foram vividas por Roberto quando viu o mar pela primeira vez, e quando acreditou que podia passar pela revista dos policiais na entrada do estádio, sem ser capturado. Quis ser revistado por todos os policiais para sentir a sensação de não ser capturado, para reforçar a sua convicção de que havia se transformado em outra pessoa, agora respeitada, embora continuasse negro, fato que o fazia se sentir muito inseguro.
Certo dia descobriu que era chegada a hora da pesquisadora voltar para a França, porque seu visto havia vencido. Sentiu sua vida segura ameaçada e, na revolta, destrói todas as fitas da pesquisa e o gravador da pedagoga, inunda a casa com as torneiras abertas do banheiro e  fica aguardando-a chegar e sentir a sua vingança.
Esta, porém, não sentiu a vingança, mas todas as emoções e inseguranças do garoto e, então, anunciou-lhe que ambos iriam juntos para a França, em especial, Marsella.
Antes de partir, a pedagoga  visita a diretora da FEBEM e lhe diz: “Você me falou que ele era irrecuperável”. A diretora observou: “É que você fez o papel de mãe e aqui o que se faz é política pública”.
Na Franca, Roberto foi  educado, estudou e após, voltou ao Brasil com um envelope lacrado pela pedagoga, onde continha o endereço de sua mãe.
Voltando ao Brasil,  deparou-se com sua mãe, lavando roupas no mesmo barraco. Nada havia mudado com ela enquanto ele esteve ausente.
Apesar dos anos, sua mãe o reconheceu e imediatamente perguntou: “Cê virou o quê?”, referindo-se a “doutor” ou a “bandido”. Roberto lhe responde com a certeza de missão cumprida:  “Eu virei professor”.
Tempos mais tarde, Roberto voltou à FEBEM como estagiário, e começou a contar estórias aos internos.  E ali foi fecundada a semente da história de vida de Roberto Carlos, que cuida de sua mãe até a sua morte e transforma-se num dos maiores contadores de estórias do mundo.